quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Tempo-Espaço do cego


Os caminhos deste processo estão se ramificando, como as raízes das plantinhas. A pesquisa mostra que pouco ou nada sei sobre essa vida tão diferente da minha que é a de João Jupiara.

Ele vive em um local que nunca conheci, Itabaiana (PB), sobre o qual apenas encontro informações em vários sites que nunca vão me oferecer um experiência tão concreta quanto o estar lá.

Sei que não tenho lido o suficiente sobre esse lugar, mas preciso avançar na construção da personagem, que não pode ser definida apenas pelo lugar. Aí penso na categoria tempo que me mostra que todo lugar muda com o tempo. Isso reforça a idéia de que não devo me apegar tanto ao local, tampouco renegá-lo.

Jupiara, pra mim, é um órfão da Modernidade, que não conseguiu se adequar a ambiência de transformações do século passado e criou, até mesmo pela limitação da cegueira, seu próprio mundo de sobrevivência em tão hostil ambiente.

Ele não é vítima da seca. É um azarado: seus pais morreram por que o coroa não sabia ler e João ficou cego misteriosamente anos depois de ser adotado por padre Chico. Mas é também um grande sortudo: tudo o que sonha acontece.

Ele demora muito tempo até perceber que é um profeta. Quando o descobre, decide partir em busca do que viu em um sonho: o trovão que curaria seus olhos e o chamaria de Jupiara.

Não apenas o lugar e o tempo são cruciais pra construção desse perfil, mas a própria investigação sobre o universo dos deficientes visuais. O André sugeriu que eu fizesse um laboratório na Biblioteca Braille do CENTUR. Vou lá na próxima semana. Meu próximo post vai tratar das impressões sobre esta experiência. Até lá.

Jupiara agora é cego

Seu nome é João, que sonhou ser Jupiara, no esperado dia do Trovão e da Chuva. Por isso percorreu todo o seu sertão (o sertão paraibano), na busca destes impossíveis achados. Não achou, porque nunca perdeu. Porque só acha quem perde, né? Fez promessa pra padim Ciço, frei Damião, São Sebastião e reza escondido pra Jesus minino por segurança nesses seus caminhos.

O pai matou a mãe, porque o pai não sabia ler. Ele pensou que ela o traia. Quando soube da verdade, ele se matou. Tão triste fim tiveram, porque ele não sabia ler.

João ainda menino ficou cego. Ele, porém, nunca perdeu a luz. O cego João anda pelas cidades da Paraíba contando, por algumas moedas, as história dos seus sonhos, verdadeiras premonições.

Jupiara não sabia que é um profeta legítimo. Certo dia descobre a verdade e lembra de um sonho que nunca esqueceu: em algum lugar desconhecido, uma chuva não cansa de cair. No mesmo sonho, um trovão chama-o de Jupiara e devolve-lhe a visão. João decide encontrar a chuva para levá-la a Itabaiana (PB), que enfrentava estiagem severa nos últimos anos, e o trovão, que lhe daria novos olhos.



Um pouco de João Jupiara por João Jupiara:

"Fui criado sacristão, mas nunca entendi o que São Sebastião, padim e Damião queriam dar pra esta terra. Eles falavam de um céu tão alto, distante.

Fui criado sacristão, em casa de padre Chico, homem sábio, de coragem, que me ensinou a rezar e letrou. Pois se ao crescer não desse pra padre, ainda podia ser doutor, dando outro tipo de remédio pros homens. Mas nem doutor nem padre quis ser.

Decidi muito garoto que minha vida era andar pelo sertão, pra encontrar a cura pra terra, que tanta gente pisa e não conhece. Por que padre e doutor só cura as doença da gente. As doença do chão ninguém sabe tratar. Tá pra nascer cabra que isso possa fazer.

Mas se algo aprendi na sacristia, é que depois da morte, no terceiro dia, o homem pode renascer. E se o truvão, chegado o dia, me arrebatar, me fizer pó, me puxar dessa terra, não se espante. Aguarde o terceiro nascer do sol e, no início da tarde, antes da chuva arriar, Jupiara vai trovejar".

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Cisquinho

"Oh! Deus perdoe esse pobre coitado, que de joelhos rezou rezou um bocado , pedindo prá chuva parar cair sem parar..."

João Francisco Matias Chagas jr. o Cisquinho, nasceu em uma casa singela na região do Cariri-CE. uma região de clima semi-árido do nordeste brasileiro.É o responsável por seus cinco irmãos mais novos.corajoso como é vai atrás da chuva para poder ajudar o seu sofrido povo.
"Perdeu pai e mãe, mas não está sozinho.agora busca seu caminho com outros dois companheiros vão decidir o seu destino".

Cisquinho e seus irmãos


CISQUINHO:

Um apelido carinhoso que foi dado quando ainda era uma criança, pois parecia muito com o pai, que inclusive ganhou além do apelido o próprio nome do pai João Francisco Matias Chagas Jr.Da casa era o filho mais velho, era um exemplo de responsabilidade, seriedade, e é esforçado, é capaz de tudo para alcançar seus objetivos. Mas também é uma pessoa rancorosa e fechada, muito pelo fato de ter aprendido da pior forma o peso da responsabilidade de cuidar de sua família inteira, isso o torna meio revoltado , tende a não levar desaforo pra casa, não gosta que o vejam como um coitadinho, não gosta de muita frescura não tem muito estudo, mas a maior de todas as lições, ele aprendeu muito bem: sobreviver...


JAIRZINHO:

É um ano mais novo que Cisquinho, é trabalhador e honesto, é a pessoa ideal para cuidar dos irmãos mais novos, apesar de não ter o pulso forte e a coragem do irmão mais velho. é bastante religioso e até mais sonhador que o próprio Cisquinho, porém espera que a salvação caia dos céus e que Deus tenha piedade de todo o povo nordestino...

ROBERTO e RIVELINO:

são os dois irmãos gêmeos e inseparáveis, receberam estes nomes pelo pai, que era muito fã da seleção brasileira de 70, e decidiu colocar o nome de um dos maiores ícones da época nos dois filhos.

BETÂNHA MARIA:

É a única mulher da casa talvez a que mais se apegou com a mãe, junto com Roberto e Rivelino se mantém na escola, eles são a grande esperança da família.

PELÉ:

Nasceu pretinho pretinho, e tão diferente dos irmãos mais velhos, o pai não perdeu a ocasião de por um nome tão oportuno no filho. O caçula da família é geralmente o alvo das chacotas. Ainda é uma criança, mais já sabe como ninguém o peso de ter que trabalhar pelo seu pão de cada dia.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Roteiro rimado da história

Como estamos inaugurando uma nova etapa em nosso processo de montagem do espetáculo, voltada para a criação e seleção de textos e definição do roteiro a ser seguido, preparei alguns excertos de texto, entre os quais este roteiro rimado que conta um pouco da estória que pretendemos contar:

Diz que um dia no sertão
Três cabocos se encontraram
Cada um com seu passado
E sua própria direção

Nas palavras que trocaram
Descobriram por acaso
que os três compartilhavam
Uma coisa a lhes faltar

Tantos sonhos, tantas dores
Igualados na mesma vontade
De topar c'um pouco de chuva
E mudar sua realidade

E foram os três sertão afora
Sem ter dia, mes, nem hora
Foram em busca da resposta
Pela chuva a procurar

Foi-se o cego destemido
Com o jovem sonhador
Mais o velho, o mais sabido
E a história começou

Mas por força do destino
Bem no meio do caminho
Encontraram co' Encardido
Que queria prosear
(CONTINUA...)

Bom, gente, ainda estou trabalhando nisso, bem como em outros excertos de texto para o nosso espetáculo. Como as postagens aqui no blog devem ser semanais, logo logo estarei postando mais material.

André Souza

sábado, 16 de janeiro de 2010

Novo processo

Este está sendo um processo de aprendizagem, mas como todo processo esse tem um diferencial maior em construir a dramaturgia, o perfil do personagem, saber de fato o que é a história. Esses são os elementos complicadores dessa nova metamorfose, mas como o processo é colaborativo então todos ajudam a todos com muita humildade. Enquanto pesquisa, a dificuldade é não ter meios para fazer a pesquisa e isso tem sido um complicador nessa minha participação enquanto grupo de experimentação. Mas busco à força em meus colegas de trabalho para que no final do processo der tudo certo.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Um texto pré-previsto! (fragmentos)

"...Os olhos tinham a grandeza da saudade... Saudade do que nunca tive... Saudades de um vago sonho. E o meu franzino corpo paraceia não entrar em acordo com meus pontudos ossos fazendo de meus movimentos uma dança desajeitada..."
"...Verdade que tudo já era bem comum... Uma morbidez que parecia sempre ter existido... Um pedaço perdido no nada..."
"...Fechei os olhos e dormi ali mesmo, sob o olhar do Senhor dos séculos... Catando apenas meus sonhos..."

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

No início, o verbo

Criar. Verbo que precede o ser. Vamos criar então, pois já não parece haver volta. Carol lançou a idéia com a qual nos envolvemos, flertamos, a qual desvirtuamos, da qual roubamos a pureza. Idéia que agora esculpimos. Iniciamos, portanto, uma jornada.

Três vidas, um encontro, um mito e desafios. Começo a enxergar o Sol de Jupiara, mitologia de índio, com algo de um Júpiter-Zeus. Penso agora do meu lugar, com o meu falar. Assisto A Sombra do Samurai, pra captar o corpo de realeza. Shingen Takeda, arigatô.

Penso na Paraíba. Vou conhecer a Paraíba lá da casa da vovó. Vou conversar e encontrar respostas na minha própria história. Quero um Jupiara metido a artista, com algo de Jack Sparrow. Um tick nervoso com o canto dos lábios, talvez.

Umas roupas bem folgadas, escuras, meio Lawrence da Arábia. Referências não vão faltar. A costura vai ser braba. Mas não só de Ctrl+C+Ctrl+V o Jupiara vai surgir.