quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Jupiara agora é cego

Seu nome é João, que sonhou ser Jupiara, no esperado dia do Trovão e da Chuva. Por isso percorreu todo o seu sertão (o sertão paraibano), na busca destes impossíveis achados. Não achou, porque nunca perdeu. Porque só acha quem perde, né? Fez promessa pra padim Ciço, frei Damião, São Sebastião e reza escondido pra Jesus minino por segurança nesses seus caminhos.

O pai matou a mãe, porque o pai não sabia ler. Ele pensou que ela o traia. Quando soube da verdade, ele se matou. Tão triste fim tiveram, porque ele não sabia ler.

João ainda menino ficou cego. Ele, porém, nunca perdeu a luz. O cego João anda pelas cidades da Paraíba contando, por algumas moedas, as história dos seus sonhos, verdadeiras premonições.

Jupiara não sabia que é um profeta legítimo. Certo dia descobre a verdade e lembra de um sonho que nunca esqueceu: em algum lugar desconhecido, uma chuva não cansa de cair. No mesmo sonho, um trovão chama-o de Jupiara e devolve-lhe a visão. João decide encontrar a chuva para levá-la a Itabaiana (PB), que enfrentava estiagem severa nos últimos anos, e o trovão, que lhe daria novos olhos.



Um pouco de João Jupiara por João Jupiara:

"Fui criado sacristão, mas nunca entendi o que São Sebastião, padim e Damião queriam dar pra esta terra. Eles falavam de um céu tão alto, distante.

Fui criado sacristão, em casa de padre Chico, homem sábio, de coragem, que me ensinou a rezar e letrou. Pois se ao crescer não desse pra padre, ainda podia ser doutor, dando outro tipo de remédio pros homens. Mas nem doutor nem padre quis ser.

Decidi muito garoto que minha vida era andar pelo sertão, pra encontrar a cura pra terra, que tanta gente pisa e não conhece. Por que padre e doutor só cura as doença da gente. As doença do chão ninguém sabe tratar. Tá pra nascer cabra que isso possa fazer.

Mas se algo aprendi na sacristia, é que depois da morte, no terceiro dia, o homem pode renascer. E se o truvão, chegado o dia, me arrebatar, me fizer pó, me puxar dessa terra, não se espante. Aguarde o terceiro nascer do sol e, no início da tarde, antes da chuva arriar, Jupiara vai trovejar".

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